Início de noite, dentro do táxi a caminho do aeroporto ele
já percebe que o tempo está fechado e que uma forte chuva se aproxima muito
rapidamente. Seria um prenúncio de que seu martírio estava apenas para começar?
Ao chegar ao aeroporto a
ansiedade aumenta na mesma proporção em que suas pernas começam a tremer na
fila do check-in. É chegada a sua vez de ser atendido e uma decisão importante
precisa ser tomada: onde sentar? Ele pensa: “vou sentar na frente, porque assim
que o avião pousar eu desço logo”. Subitamente um pensamento lhe vem a cabeça:
“se esta droga cair eu serei um dos primeiros a morrer...”.
-
Não, não! Eu vou na parte de trás. – diz ao atendente.
Pelo menos assim eu terei tempo de fazer um último pedido, pensa.
-
Janela ou corredor Senhor? – indaga o atendente.
Ainda tem que decidir isso... É
muita coisa para uma pessoa só se preocupar. Ele decide corredor, afinal,
assim, não precisaria ficar olhando pela janela a altura que aquele monstrengo
voa, pensando no que sobraria dele caso aquele aparelho pesadão caísse.
Decidido onde sentar ele avança
cada vez mais trêmulo na direção da sala de embarque, mas antes de entrar
precisa passar pelo detector de metais.
-
Pipipipipi!!! – apita o detector.
É quando começa a tirar uma série
de objetos que levava consigo: balangandãs, terço, correntinha com ferradura e
trevo de quatro folhas e outros penduricalhos mais para dar uma boa sorte.
Na sala de embarque, além das
pernas trêmulas, já consegue perceber uma certa aceleração em seu ritmo
cardíaco e uma incrível sensação de mal estar, quando aquela tradicional voz
interrompe os seus pensamentos:
-
A Voe Bem Airlines convida passageiros do vôo 1220 com
destino a São Paulo e demais conexões para embarque imediato através do portão
13.
Meu Deus, portão 13... Isso pode
ser um mau presságio. Agora o frio na barriga aumenta, ele entra na aeronave em
busca de seu assento, acomoda sua bagagem de mão e seus amuletos da sorte.
Senta na poltrona, afivela fortemente o cinto e respira fundo. Seja o que Deus
quiser, pensa.
O avião taxia na pista e tem sua
decolagem autorizada. Ele então começa a rezar, pega o terço, aperta os
patuás...Aqueles poucos segundos até a decolagem parecem uma eternidade, até
que ele sente aquele breve friozinho na barriga: é o sinal que o monstrengo
enfim conseguiu decolar.
O vôo segue tranqüilo até que
repentinamente os avisos de atar cintos de acendem. Vem por aí uma turbulência
daquelas! Chacoalha daqui, chacoalha dali e a sensação que ele tem deve ser a mesma
que bala de hortelã em boca de banguela, sendo jogado de um lado para o outro e
apenas preso pelo cinto de segurança.
Mas, depois da tempestade sempre
vem a bonança. A turbulência passa, ele até consegue relaxar um pouco mais,
quando o comandante informa que o pouso está autorizado. Rapidamente ele pensa
que os especialistas costumam afirmar que os aviões só caem quando decolam ou
quando pousam...Se não caiu quando decolou vai cair agora na hora do pouso.
Ele fecha os olhos, pede proteção
a Nossa Senhora dos Passageiros Desesperados. Quando se dá conta o monstrengo
já está no solo e as pessoas se preparando para desembarcar, então sente um
toque em seu ombro e uma voz doce e meiga o interpela:
-
Você tem medo de avião?- pergunta-lhe uma simpática
senhora que aparenta uns setenta anos.
-
Sim.-responde.
-
Fica tranqüilo meu filho, todo mundo tem seu dia!
-
Eu sei minha senhora, o problema é se hoje tivesse sido
o dia do piloto.
se for o dia do piloto, eu nao quero estar dentro do aviao ! kkkkk
ResponderExcluirKkkk. Acho que as pessoas podem até nao ter medo de aviao mas que na decolagem ou do pouso é feito um minuto de silêncio, ah isso todos fazem !kkk
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