quinta-feira, 7 de agosto de 2014

PARA NUNCA MAIS SAIR DA HISTÓRIA!

Após um longo período sem escrever no blog e sempre me cobrando um tempinho para retomar as potagens, eis que hoje acordei inspirado e resolvi escrever algumas mal traçadas linhas para desenferrujar. 

E por que justo hoje resolvi voltar a escrever? Porque há 20 anos atrás, justamente num 07/08 do já longínquo ano de 1994, presenciei, juntamente com pouco mais de 97 mil pessoas que estavam na Fonte Nova e mais outros tantos milhões mundo afora, o surgimento de um ídolo!

Era um domingo como muitos outros domingos de 1994. Só que aquele não seria um domingo qualquer! Era a decisão do campeonato baiano! Bahia e Vitória decidiriam mais uma vez o certame, sendo que o tricolor jogava com a vantagem do empate.


Depois de um campeonato repleto de altos e baixos, com goleadas do maior rival por 4 x 0 e resultados muito aquém das expectativas, o Bahia reencontrara o caminho dos triunfos após a chegada do treinador Joel Santana e uma legião de reforços desconhecidos vindos de clubes pequenos do Rio de Janeiro. 

O time cresceu na competição e chegou até a final muito motivado em conquistar o bicampeonato baiano. Eu lembro como se fosse hoje os dias que antecederam aquela final: muita expectativa nas ruas, torcedores em polvorosa e promessa de quebra do recorde de público num BAVI.

Como o tricolor jogava por um empate, passei a semana inteira comentando com os amigos e familiares que estaríamos perdendo o jogo até os 45 do segundo tempo quando Advaldo NBA (zagueiro alto, desengonçado e de pouca qualidade técnica) empataria o jogo de cabeça e daria o título ao Bahia.

No dia do jogo, repleto de ansiedade, almocei cedo e saí de casa com minha irmã para percorrer os pouco mais de 6 km que separavam nossa casa da Fonte Nova. Isso mesmo, naquela época íamos e voltávamos andando do estádio.

Chegamos cedo na Fonte e logo entramos para garantir nosso lugar, afinal as redondezas estavam cheias e muita gente ainda tentava comprar ingressos para assistir a decisão. O recorde de público era garantido!

Dois terços do estádio estavam em azul, vermelho e branco e apenas o lado esquerdo das cabinas de imprensa era ocupado pela torcida rival. A festa era bonita!!! Torcedores de ambos os times cantavam alto e mediam força nas arquibancadas muito antes da bola rolar.

E o jogo começou! No alto dos meus 17 anos, aquela era mais uma decisão que acompanhava no estádio, fato que se repetia desde 1981 em todos os anos que o Bahia chegara a final. Apesar de jovem, já me sentia experiente em finais e sabia que seria um jogo tenso e cheio de emoções.

Não deu outra!!! O jogo era pegado, com muita disputa e poucas chances de gols. Foi quando no final da primeira etapa o rival abriu o placar num belo gol do centroavante Dão. Festa para a minoria barulhenta de vermelho e preto.

Na hora do gol fiquei resignado! Revoltado! Mas segundos depois olhei para Aline (minha irmã) e comentei: "lembra do que falei a semana inteira? Vamos empatar!!! Tá tudo dentro do script..." Ela deu um sorriso amarelo, meio descrente e gritou com sua voz anasalada e estridente: "Bora Bahêeeaaaa!!!" (Já sei que quando ela ler vai dizer que não foi bem assim, mas a história é minha e eu conto do jeito que eu quiser...kkkk).

Veio o segundo tempo e com ele a esperança da nação tricolor por um empate  Foi aí que Joel resolveu abrir mão de um dos volantes (Maciel) e colocar em campo o jogador que seria responsável por um dos mais lindos capítulos da história do Bahia.

Raudinei Anversa Freire assinou a súmula e entrou no gramado com a camisa 15. Até aquele 07/08/1994 Raudinei não tinha feito muito com o manto sagrado, porém o que faria minutos depois seria suficiente para alça-lo à condição de ídolo!

O jogo continuava muito disputado, muita transpiração e pouca inspiração. O tempo ia passando, a angústia aumentando...até que o rival teve uma chance no final do jogo e a zaga tirou quase em cima da linha..

Neste momento, com a torcida ainda apreensiva, levantei e gritei: "vamos empatar!!!" Eles tiveram a chance de matar o jogo e não o fizeram. Isso custa caro contra um time como o Bahia, com alma, garra e muita estrela!!!

O jogo já chegava no final e ninguém saia da Fonte Nova abarrotada de gente! A torcida rival já comemorava o título e ecoava um ridículo "Bi, Bi, Bahia é Bicha" se referindo ao bicampeonato que estávamos deixando escapar...

Foi então que surgiu o lance que mudaria para sempre a vida de Raudinei! A bola foi recuada para o goleiro Jean que estava na intermediária, ele tocou para o zagueiro Missinho, que deu um chutão para o meio encontrando a cabeça do volante Souza que tocou para o atacante Zé Roberto, de novo de cabeça passar para Raudinei...(pausa estratégica para conter a emoção e rever na memória e no Youtube o gol - https://www.youtube.com/watch?v=4puWEv0YB0M).

O camisa 15 viu a bola cair à caráter para um chutaço de canhota que venceria o goleiro Roger e faria a festa mudar de lado aos 46 minutos do segundo tempo!!! A Fonte Nova foi à loucura num dos momentos mais emocionantes de minha vida de torcedor!!!


O grito de gol, preso na garganta durante os 90 minutos regulamentares, ecoava não só na Fonte Nova, mas em toda a Bahia, o Brasil e o mundo!!!! Raudinei entrou no jogo decisivo para nunca mais sair da história do Bahia!!!

O Bahia conquistou o bicampeonato baiano e nosso eterno camisa 15 um lugar de destaque na galeria dos maiores ídolos do clube! Um ídolo que só precisou de um gol para virar mito e ficar para sempre no coração do torcedor tricolor!

Valeu Raudinei!!