quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O OBELIX TRICOLOR

Prezado(a) leitor(a),

O nosso post de hoje é uma colaboração incrível de Jacob Lessa, grande tricolor, que nos conta com muito bom humor duas emoções distintas em sua vida de torcedor do Bahia: a primeira é a conquista do Bicampeonato Brasiliero em 1988 e a segunda o gol de Raudinei na final do Baianão de 1994.

Se deliciem com este espetacular texto que mistura paixão, loucura e extremo bom humor!!! Muito obrigado Jacob! A ideia do blog é justamente essa: promover o debate e a participação de todos.

Portanto quem tiver textos que queira nos enviar é só mandar uma mensagem nos comentários que teremos o maior prazer em publicar. Mas chega de conversa fiada e vamos apreciar o texto.


Realmente temos esta característica em nosso subconsciente: quando acontecimentos são realmente impactantes em nossas vidas, conseguimos nos lembrar de pequenas coisas que passariam despercebidas.

Sei por exemplo, com detalhes, o que fiz horas antes e depois de eu chegar em casa e assistir atônito pela TV as notícias sobre o atentado de 11 de setembro de 2001.

No caso específico deste texto, lembro-me que eu bebera durante o dia todo em um boteco com amigos, na cidade de Boquira (aprox. 620 km de Salvador) e, entre churrasco e biritas, só se falava na grande final

Minha maior preocupação, porém, era o fato de que eu voltaria para Salvador às 17 h (único horário disponível) daquele domingo e isto me faria perder o jogo. 

No auge daquelas conversas, chega a cara-metade com minha sacola, avisando-me que faltava apenas trinta minutos para a chegada do ônibus, que viria de Macaúbas. 

Despedi-me dos amigos e fui para o ponto. Solitário (visto que as dezenas de pessoas que ali se encontravam esperando o mesmo transporte não sabiam ou desmereciam o acontecimento do século), via numa pequena TV os preparativos para o início do jogo.

‘Estranhamente’, o ônibus atrasou exatas duas horas (soube depois que o motorista, tricolor de fato e de direito; resolvera, sob pena de qualquer coisa ruim que pudesse advir de tal comportamento, assistir ao jogo na cidade vizinha). 

A birosca ao lado do ponto só servia alguns lanches e mingau, mas o dono providenciou meio litro de pinga para este que vos escreve, numa atitude humanitária sem precedentes na história daquele município de pouco mais de dez mil habitantes.

Bebi a uca com tira-gosto de mingau e, quando a marinete chegou perto das oito horas da noite, sentei em minha poltrona com um sorriso pra-lá-de-besta no rosto e confesso: não vi nem o ônibus sair do trevo e pegar a estrada; só acordei na rodoviária de Salvador.

Um detalhe que não deve escapar a respeito daquele jogo era de que o regulamento da competição naquela época permitia ao Bahia perder por qualquer diferença de gols e, mesmo assim, haveria prorrogação. 

Isto mesmo: como havia ganhado a primeira partida, poderia perder a segunda, sem se preocupar com o saldo.Outra coisa: fazer macumba funcionar contra baiano, como imaginaram os gaúchos; é mais difícil do que dar um beijo de língua em orelha de freira.
 
Também a citação na qual Caetano faz uma referência à ‘elegância sutil de Bobô’ só aconteceu, por que aquela bola bateu na trave. Se tivesse entrado, Caetano faria um hino, uma ode, uma ópera, baralho às quatro...
 
Inacreditavelmente, devo dizer que não chorei; uma vez que o faço até assistindo o Bob Esponja. Talvez fosse a apreensão com a demora do ônibus, embora toda vez que consumimos líquido(s) em demasia, eles insistem em sair por todos os orifícios, incluindo aí os canais lacrimais (n.a: falei pouco mais falei bonito).
 
Então, por estas razões, esta não foi a maior emoção que o Bahia me fez sentir. Foi a mais importante sim; mas não a maior.
 
Também não foram as loucuras cometidas para conseguir ingressos nos jogos anteriores, contra Sport, Fluminense e o próprio Inter; que identificam a ‘insanidade’ dum torcedor.
 
A mistura de tudo o que foi dito antes: tensão, apreensão, raça, ansiedade, angústia; estas coisas todas misturadas com amor, paixão, birita também (por que não dizer?); são o que nos fazem cometer atos de loucura como o que fiz, aos 43 minutos do 2º tempo, do dia 11 de agosto de 1994; com aquele gol antológico de Raudinei (matéria para outro post seu Reverendo).
 
Eu me encontrava nas arquibancadas especiais (aqueles dois setores que se localizavam entre as torcidas do Bahia e Vitória, mediadas pela ‘arquibancada superior’) e como não aguentava mais de tensão, estava naquela altura num dos bares que ficavam em cima, mais próximo à torcida adversária. 

Razão pela qual me mantinha quieto, apenas assistindo o jogo; longe de quatro amigos que estavam no lado mais tricolor das ‘especiais’.
 
Minutos antes adquirira dois copos de cerveja (daqueles em que eram colocadas as cervejas do tipo ‘mini’ que eram vendidas no estádio) e apreciava, de pé, o espetáculo.
 
Eis que surge o gol e o que há de razão em nossas mentes, se esvai. Ato contínuo, eu jogo para o alto os dois copos de ‘cerva’ e saio correndo a procura de meus amigos. 

Em aproximadamente trinta metros de corrida, feitos em menos de cinco segundos, suponho; derrubo duas pessoas no caminho e ‘cato’ um acarajé da baiana que havia no percurso. 

Aquela não era uma imagem das mais pacíficas para as pessoas que puderam assistir o meu desempenho: alguém parecido com o Obelix (eu pesava 138 quilos), cabelos no meio das costas, barba no meio dos peitos, e ainda por cima (só vi depois, juro), carregando nesta corrida um completo desconhecido (que só se soltou quando eu parei, talvez por medo das consequências de uma queda e eventual atropelamento naquele momento).
 
Resumindo: naquele dia só saí da Fonte Nova na madrugada de segunda, às escuras; e ainda fui bem recebido pela esposa quando ao lar retornei.

Sei que não foi o título mais importante, mas foi a maior emoção que senti com o meu Bahia.

Um comentário:

  1. A energia e o bom humor de um tricolor Bahiano não tem igua!!

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